11/19/2007

Adereços no Pelô !


Foto: Carla Prates

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Ele enfrenta a precariedade do transporte público


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Zabumbeiro


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Mansão Colonial


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7/25/2007

Matemos em busca da medalha de ouro!

Sei que ando em falta, mas hoje eu realmente senti vontade de escrever. Esses tempos tenho escrito coisas para mim, senti a necessidade de ser um pouco egoísta com o poder da palavra escrita. Acho que precisava de um tempo que as minhas palavras fossem apenas minhas.
Hoje, porém, sentei na cama para ler a Caros amigos desse mês, como nova assinante que sou, e já na primeira matéria senti um rebuliço. Sensação essa que não sei se veio da estudante universitária ou do ser humano que sou, se é que as duas das muitas partes conseguem se distinguir no turbilhão de elementos que constituem a alma humana.
Parando a enrolação, o texto que me despertou o olhar observador foi o de Mariane Felinto ,onde ela aborda alguns aspectos que fazem tremar a atual formação dos jovens de classe média.
Diante dele, pensei: Porque será que uma discussão tão calejada toma forma e proporção toda vez que jovens de classe média cometem atos como o espancamento da empregada Sirlei Dias de Carvalho Pinto, na Barra da Tijuca? Procurei me lembrar de atos corriqueiros, e percebi que se as pessoas prestassem mais atenção as atitudes rotineiras não se espantariam tanto.
Não estou aqui dizendo que atos desumanizadores como este não devem nos deixar escandalizados ou perplexos. O que invadiu a ligação dos meu neurônios foi perceber que apenas essas ações nos estarrecem mesmo sendo denunciadas todos os dias, antes mesmo de acontecer.
A caminho do Farol da Barra, no ônibus que há muito não entrava por ter feito uma cirurgia recente, percebi o quanto a maioria é mal-educada e porca: Desconcertante. No vai e vem da condução, fui reparando em perfis diversos que em sua maioria pessoas limpas, muito bem asseadas, mas com atitudes e pensamentos porcos.
Papéis de bala jogados pela janela, xingamentos verbalizados pelo simples fato de ocuparem o mesmo espaço, rostos virados enquanto um senhor doente clamava por ajuda... Egoísmo: é isso que vêm educando os filhos da nossa pátria. Pátria essa que sente orgulho e se veste de verde e amarelo para ganhar medalhas de ouro.
E não é isso o que importa? Ganhar! Mas, de onde vem esse ganho? De uma alma vazia e ansiosa por seus 15 minutos de fama, que nunca saciam a necessidade do poder? Esse ganho de nada vale.
Também de nada vale observar e pensar nessa terra em que governa o ouro dos tolos. Por isso, vamos torcer pelas medalhas proporcionadas pelos 4 desvios de verba do Pan rio 2007 e pelo descompromisso do mesmo com a inclusão social através do esporte! Vamos aclamar com fervor o consumismo, a inquestionável importância do corpo sarado e a ordem, assim como o progresso.
E antes de que me julguem uma hipócrita e sonhadora estudante de jornalismo que deseja mudar o mundo, convoco os jovens da classe "A" brasileira para enterrar as putas, os pobres, os assassinos, os ladrões, as bichas, os delinqüentes, os desqualificados e os anormais com o objetivo de ganhar a medalha de ouro de que tanto sonham. Porém, adverto a juventude rica e educada para o fato de que o prêmio, dessa vez, não será pelo salto da ginástica nem pela partida de vôley. E sim, por salvar da sujeira incômoda a pátria que me pariu.
Venham, será um bom negócio!
A minha única exigência é que me enterrem antes, para que eu não afunde na mesma terra em que descansa o grande bem-feitor, o grande político que foi o Senador Antônio Carlos Magalhães, vulgo Toninho Malvadeza, hoje um santo.

3/10/2007

Fluxos Fixos

Sempre no mesmo objetivo
Sempre no mesmo ritmo
A música dita o tempo
O tempo gira, mas não muda
Não muda o sempre, ele baila com a música
Sempre no tempo, o giro muda
Muda ou não muda?É a mesma música
Mas o ritmo acelera, ele sempre muda
A sutileza do tempo me cobra a luta
De criar um sempre, que sempre mude
Mas que sempre é esse, quem nunca persevera?
É um tempo constante
Que sutilmente roda
Na mudança do objetivo, que sempre muda
Mas que é imperceptível para o ritmo do coração
De quem nunca muda

12/19/2006

Você tem fome de que?

Quando chegou o meio-dia, a aula perdeu a importância. Foi diante desta situação que resolvi entender o que meu estômago me dizia todos os dias.
Comecei a desviar a atenção dos roncos e dos gemidos e a tentar acreditar que a minha fome era um fator psicológico, mas a definição dada pelo Código Alimentar Argentino não me saía da cabeça. Esses argentinos, sempre eles.
À medida que o tempo passava, meus pensamentos se tornavam cada vez mais trágicos.Depois de lutar com o tal Código Alimentar, ele me convenceu do caráter biológico da fome e, apesar de ter conseguido afastar aquela definição dos meus pensamentos, outra tragédia passou a me consumir os miolos: seria esse o desespero das filhas de Karl Marx quando a morte lhes veio acalmar o estômago?Está bem, confesso que isso é um pouco exagerado demais.
A aula acabou às 12h50, mas meu desespero seguiu seu curso. Enquanto esperava para ir para casa, estudantes se debruçavam sobre pratos muito bem arrumados e sobremesas que faziam a boca suar.
Minha atenção se deteve numa menina pequena e magrinha que parecia escalar uma montanha de bifes, batatas fritas e muitas outras delícias gastronômicas. Foi um empadão de massa folhada o meu objeto de desejo: enquanto ela fechava os olhos de tanto prazer, eu arregalava os meus, em busca de socorro. Neste momento, eu desejei que Claude Gallé, “O Lourenzo”, tivesse pulado a sua fase de pasteleiro e tivesse se dedicado apenas às pinturas.
Não resisti. Corri para o restaurante a quilo e me entreguei ao pecado da gula. Na fila, eu olhava ao redor e percebi que não havia mais cadeiras disponíveis, apenas mesas. Quando pensei em desistir, lembrei-me dos gregos e dos romanos de antigamente . Como os ocidentais são bestas, pra que comer sentado?
Sabendo que eu não podia fracassar, continuei a minha jornada. Ainda na fila (que já me angustiava por não terminar nunca), percebi que não havia mais garfos na cesta. Céus, não podia ser! Mais uma vez me prendi à história, e novamente ela me salvou do fracasso. Era só imaginar que o mundo ainda não havia passado pela Peste Negra! Solução brilhante.
A esta altura, as pessoas da fila já me olhavam de forma exageradamente curiosa. Foi por isso que elas perceberam a minha decepção quando percebi que o tão esperado empadão de massa folhada havia acabado.
Essa era demais para minha cabeça. Sem garfo tudo bem, sem cadeira tudo bem, mas sem empadão de massa folhada?Droga, não havia o que fazer.
Desolada, continuei esperando naquela fila interminável. A alegria só voltou a me esquentar o sangue quando escolhi uma enorme fatia de torta de chocolate para sobremesa . Coitada da Catarina de Médici, será que ela não percebeu que fundos de alcachofra não chegam aos pés de uma torta de chocolate? Ainda bem que essa graça eu alcancei.
Quando terminei o ritual e o transe da catarse passou, estava com os pensamentos vazios. Com os olhos correndo pelo restaurante, honrei o ditado “cabeça vazia, oficina do diabo”. Meu deus, aquele restaurante estava imundo!Será que as pessoas não percebiam? Não, elas estavam entregues, de corpo e alma, ao pecado da gula.
Desta vez, não foram frangos, mas esponjas, pias e panos de prato dignos de um banho, que dançavam diante dos meus olhos. As doenças características da ingestão de alimentos contaminados ou pior, as mortes cada vez mais freqüentes, ocorridas pelo mesmo motivo, me fizeram correr à livraria em busca de ajuda.
Foi Roberto Martins Figueredo, com “As armadilhas de uma cozinha”, que me salvou do desespero. Contaminada pela ansiedade, corri para casa. Na cozinha, lavei, limpei, arrumei os alimentos, conferi a refrigeração, o armazenamento e todas as outras condições de conservação dos alimentos, sempre guiada pelo livro comprado.
Quando terminei, estava exausta e com fome. Isso mesmo, com fome!Foi aí que o ciclo voltou ao início: novamente via frangos , farofas, feijões e outros alimentos voando pela cozinha e me fazendo, novamente, delirar.
Não havia saída: abandonei o meu Roberto e a sua higiene e comi...Simplesmente comi.

9/28/2006

Só espero que não seja até sempre....

Umbigos, umbigos, umbigos. Acima: umbigo!Abaixo:umbigo!Eu olho pro meu , mas e você ? Olha ou só olha pro seu ?.
Ela era meiga, doce e rica . No seu quarto havia um computador branco e uma cortina rosa. Uma parede branca , e uma rosa. Roupas brancas e rosas. Ela era branquinha e tinha bochechas rosadas: Linda !
Sua família gostava de Bossa Nova, Van Gogh, teatro, ópera e missa. Se ela tinha empregados? Muitos...Empregados que a viram crescer e viver nas quatro paredes do seu quarto. Na verdade, ela quase nunca saía de lá.
Como nós enxergamos o mundo que nos cerca ?Na verdade, ninguém enxerga nada...Ah claro, mil desculpas: faltaram os umbigos! Umbigos limpos, umbigos brancos, umbigos com jóias. São tantos que não se sabe qual o mais bonito ou o mais feliz. É, os médicos tem razão, nós enxergamos umbigos.
Sim, Maria Clara tinha um umbigo. Ele era branco, tinha uma jóia (rosa) que era trocada toda semana e lustrada com álcool gel pela filha da governanta. Nossa, que jóias!
O nome da menina, Maria Clara não sabia. Quantos anos ela tinha, não sei . A única coisa que a princesinha sabia é que seu umbigo brilhava.
Que maravilha é chegar à conclusão de que não somos cegos. Mas se nós, seres humanos dotados de “olhos enxergantes”, enxergamos...Como é mesmo o umbigo da filha da governanta?Meu deus, socorro!Somos cegos? Não, biologicamente: enxergamos!
Foi assim, diante dessa indagação que eu resolvi procurar Maria Clara. Foi difícil achar a porta certa, o quarto certo, mas eu a encontrei. Vendo aquelas bochechas rosadas assim, tão perto se mim, veio a decepção: ELA NÃO SABIA!!! Enquanto a filha da governanta lustrava suas jóias, elas escovava os cabelos, nunca tinha prestado atenção na jovem que a acompanhava na difícil tarefa de enfeitar seu umbigo.
Então, ainda mais confusa, eu procurei a filha da governanta. Não havia jeito, eu precisava encará-la . Sem nome, sem endereço, sem cor, sem umbigo...Mesmo assim eu a encontrei e percebi que ela chorava todos os dias, mais Maria Clara não percebia. Percebi que ela usava roupas pretas e brancas todos os dia, mas Maria Clara não percebia. Percebi que ela falava todos os dias, gritava todos os dias, estava presente todos os dias... mas Maria Clara não a via .
Por que a filha da governanta chorava ?Na verdade era porque ela enxergava. Enxergava o umbigo enfeitado e logo depois enxergava o seu: negro, sujo, considerado um problema. Para ela, nada de álcool nem de jóias, apenas lágrimas.
Até quando vamos nos pentear enquanto os outros choram ?Até quando as jóias vão ser caras a ponto de não enferrujarem com as lágrimas de quem as lustra ?Até quando...Até quando...
É na falta de coragem que residem os olhos abertos e nos olhos fechados que brilha a força. Foi no escuro que eu enxerguei a qualificação do considerado desqualificado. Foi com os olhos fechados que eu descobri que enquanto o mundo gira, nós apenas giramos com ele. Não o vemos girar, não reparamos na velocidade, na beleza, nos detalhes do giro, apenas descansamos quando não queremos mais girar. Em vez de olhar, sonhamos e , enquanto isso, o mundo gira ...E nós apenas giramos com ele.Até quando? Só espero que não seja...Até sempre.

8/26/2006

Coluna de quinta : O que falar sobre janelas?

Sinceramente, eu não sei oq escrever essa semana. Quando o tema foi sugerido, eu não pensei que seria difícil escrever sobre uma coisa tão banal...pelo visto me enganei.
Talvez esteja aí o problema: Geralmente tentamos escrever sobre coisas belas, lemos sobre política, economia, filosofia...Estudamos, estudamos, estudamos e esquecemos das coisas que vemos todos os dias, coisas como uma janela.
Talvez você, assim como eu, nunca tenha parado pra pensar sobre a função de uma jenela, por exemplo.Por que será?Serão as janelastão desimportantes ao ponto de não serem vistas, ou melhor, observadas?Não estou aqui falando dos olhos, tão exeustivamente citados como sendo "a janela da alma", nem dos textos e poesias que falam coisas do tipo : "foi através daqueles olhos que pude mergulhar na sua alma e explorar os seus mais íntimos segredos" ou "aqueles olhos me diziam tudo, através dele ela me disse coisas q eu nunca imagiei descobrir" e blá, blá, blá.
Estou falando das "janelas janelas", aqueles buracos feitos nas paredes da sua casa que vem acompanhados de vidros tranparentes, fumês, rosas, laranjas, verdes, dourados, como queiram. Terão elas sentido tão poeticamente profundo quanto os olhos? Sim, talvez até mais. Você já parou pra pensar que através destes simples buracos pode-se conhecer toda uma vida ?
Pois é, eu também nunca tinha percebido a gravidadede se ter uma janela. Será que alguém me viu fazendo o que eu queria fazer se ninguém pudesse me ver????Santo deus, CUBRAM AS JANELAS!!!!!!!!!!!!!
Ou melhor....não, não cubram. Se cubrirem, como é que eu vou descobrir se o meu vizinho da frente brigou ou não com a namorada,se aquela mulher completamete estranha é ou não é homossexual, ou se, ou se... É, com certeza você também deve descobrir bastante coisas através da sua janela... Velhinhos dançando, senhoras cantando, vagabundos estudando, garotinhas transando...E o que mais?
Hoje eu também pensei: pra que televisão se temos as janelas? Parece loucura, mas veja :Os buracos na parede são muito mais interessantes!Têm mais mistério, mais veracidade, mais pureza. Tá, eu sei... Seria um caos se as pessoas resolvessem ficar penduradas na janela com a mesma frenquência com que assistem TV, ningém ia fazer mais nada de forma espontânea com todos aqueles olhos espiando e esperando o espetáculo, não teria mais graça. Mas lembrem-se: as cortinas servem para isso, pra ninguém ver que você está vendo. Parece sujo e desonesto, mas é real.Quem nunca olhou por entre as cortinas?Se você nunca olhou, olhe ! Não sabe o que está perdendo.
Bom, desculpem se assustei vocês ... Na verdade, a pureza de pensamentos ás vezes assusta, mas espero que tenham entendido a essência da coisa. Não que nós sejamos artistas do BBB 1000, ou que os nossos passos sejam vistos e ouvidos pelos nossos vizinhos,mas, com certeza, você já teve seus minutinhos de fama. Por isso, abra as cortinas e seja feliz! Mas cuidado: as paredes têm ouvidos, ou melhor, olhos. E por falar nisso... deixa pra lá, eu definitivamente não sei quais são os ouvidos das paredes. Quem sabe aquela vizinha que sempre sabe o que eu falei ao telefone não saiba exatamente onde eles estão ? Se souber, não vaoi me dizer tão facilmente.
Agora, vamos cuidar das nossas vidas, ou melhor, eu cuido da sua e você cuida da minha. Que tal? E assim, com as vidas devidamente cuidadas, " vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir, sempre espiando e cantando, e dançando, e vivendo, e sendo descoberto...Tudo isso faz parte do nossso show, sofisticadamente chamado de vida.

8/10/2006

Leia ...Você pode estar precisando ...


Trecho do livro " O Pequeno Prícipe"

Algumas pessoas que eu achava que conhecia estão precisando dele... Aí pensei: Talvez vocês também estejam precisando dele....Talvez o mundo esteja precisando dele...

" Tem gente que machuca os outros, tem gente que não sabe amar. Mas eu sei que um dia a gente aprende, se você quiser alguém em quem confiar : CONFIE EM SI MESMO! Quem acredita sempre alcança!

"E foi então que apareceu a raposa:
-Bom dia, disse a raposa.
-Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
-Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
-Quem és tu?perguntou o principezinho.Tu és bem bonita...
-Sou uma raposa, disse a raposa.
-Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
-Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
-Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
-Que quer dizer “cativar”?
-Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
-Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer “cativar” ?
-Os homens, disse a raposa, tem fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?
-Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
-É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços...”
-Criar laços?
-Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
-Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor...Eu creio que ela me cativou...
-É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
-Oh! Não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
Num outro planeta?
-Sim.
-Há caçadores de raposa nesse planeta?
-Não.
-Que bom ! E galinhas?
-Também, não.
-Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
-Minha vida é monótona. Eu caço galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem um também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como de fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado. O trigo ,que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
-Por favor...cativa-me! Disse ela.
-Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
-A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
-Que é preciso fazer ? perguntou o principezinho.
-É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
-Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Seu tu vens , por exemplo, às quatro da tarde, desde ás três começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada : descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...É preciso ritos.
-Que é um rito?perguntou o principezinho.
-É uma coisa muita esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo,possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha . Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
-Ah! Eu vou chorar.
-A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
-Quis, disse a raposa.
-Então, não sais lucrando nada.
-Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
-Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
-Vós não sois absolutamente iguais a minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
-Sois belas, mas vazias, disse ele ainda: Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é porém mais importante que vós todas, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que pus sobre a redoma. Foi ela que abriguei com o paravento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
-Adeus, disse ele...
-Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
-O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
-Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
-Eu sou responsável pela minha rosa...respondeu o principezinho a fim de se lembrar."